O desenvolvimento da linguagem no bebé deve ser um pouco como qualquer outra área de desenvolvimento: acompanhado individualmente, ao ritmo do bebé e estimulado de forma positiva. Cada criança tem o seu ritmo, está exposta a diferentes ambientes, experiências, estímulos. Existem tabelas? Existem, mas… serão as crianças tabelas?
Coloquei esta e outras questões à Terapeuta da Fala Ana Sofia Cunha, autora do blog Born to be a Mom e desafiei-a a escrever este artigo com alguns dos aspectos principais a ter em mente no que toca ao desenvolvimento da linguagem no bebé.
‘Quando somos pais, principalmente de primeira viagem, somos assoberbados por 1001 tabelas quase tipo check-lists que os bebés têm de preencher. E o que é que isso traz? Informação importante claro, mas também muita ansiedade e stress que irá passar para os pequenotes.
A linguagem e o seu desenvolvimento é algo que de facto preocupa bastante os pais/cuidadores e educadores de infância. E, comete-se frequentemente o “erro” de comparar crianças e desenvolvimentos. Motivo? Tabelas.
No 1º ano de vida, estamos muito atentos (e bem) se já levanta a cabeça, se já rola, se gatinha e, depois começamos a ver os 12 meses a chegarem e queremos muito que comece a andar. Porquê? Porque sempre ouvimos dizer que as crianças andam aos 12 meses.
Então e se não andarem aos 12m e andarem aos 15m? Haverá algum problema? Será que tem um atraso? Resposta claramente que é não! Cada bebé tem o seu próprio desenvolvimento e cada bebé tem o seu ritmo de aprendizagem.
Claro que, as tabelas existem e são óptimas para nos ajudarem (a nós profissionais e a pais) a percebermos se de facto existe algum sinal de alerta para podermos abordar com o nosso médico assistente e se haverá algo que precisemos de fazer. No entanto, o que têm de bom também têm de “mau” no sentido em que podem trazer demasiada ansiedade a quem não é profissional e alarmar de alguma forma que não seria suposto.
E porque é que comecei a falar no desenvolvimento motor e não fui logo directa ao assunto da linguagem? Simples. É muito mais fácil de perceber que, tal como o desenvolvimento motor não é assim tão linear, o da linguagem também não.
Indo então ao cerne da questão, vamos definir o que é a linguagem. Nada mais nada menos do que um conjunto de símbolos que servem para comunicarmos de forma verbal ou não-verbal (por exemplo, através de gestos) de forma a transmitirmos uma mensagem. Para que este desenvolvimento seja adequado, o bebé deverá “preencher” alguns pré-requisitos como: uma audição preservada, um desenvolvimento cognitivo dentro do expectável e um aparelho fonador íntegro para a produção da fala.
Estando tudo “normal”, vamos percebendo de forma geral que o bebé cada vez vai aprimorando mais a sua forma de comunicar connosco. Se aos 2 meses de vida é apenas através do choro que nos consegue dizer se tem fome, sono, desconforto, dor… a partir dos 6 meses já vai emitindo alguns sons de forma sequencial mas ainda sem significado (por exemplo o famoso “mamamama”) e a partir dos 12 meses até aos 18m espera-se que comece por dizer as primeiras palavrinhas, de forma consistente e com significado.
Mas, e se isto não acontecer?
Primeiro, devemos estar atentos dois factores cruciais:
- audição e compreensão da linguagem.
A criança compreende o que lhe é dito? Cumpre ordens simples e dirigidas? Tem intenção comunicativa? Brinca com os adultos e com os pares? Interessa-se pelo meio envolvente? Vocaliza? Se a resposta a estas questões é sim então é sinal de que a mensagem está a chegar lá e isto sim é de facto muito importante. No entanto e como eu digo sempre, cada bebé é um bebé.
Todos os pais sabem que nas consultas de pediatria ou de medicina geral e familiar, na altura de pesar e medir os bebés é atribuído um percentil que dita de que forma é que está a evoluir o seu crescimento. Com o desenvolvimento acontece a mesma coisa. E se um bebé que está no percentil 10 no crescimento pode ser super saudável, com o desenvolvimento da linguagem vai acontecer o mesmo. Se está num percentil abaixo do que era suposto, não quer dizer logo à partida que terá alguma alteração. Quer apenas dizer que teremos de estar atentos para a evolução e de que forma esta acontece.
Se o vosso pequeno não disser 50 palavras aos 18 meses (que é de facto a média) mas disser 10 e está com um desenvolvimento normal, será preocupante? E se em vez das 50 palavras disser 70 quer dizer que é sobre dotado? Claro que não.
Agora papás, cuidadores, educadores…não andem todos os dias com um lápis e caderno atrás para fazer inventário de palavras. Olhem para a criança no geral, no seu todo e percebam que, se está tudo bem com a criança mas de facto está com algumas dificuldades ao nível da linguagem (quer seja ao nível da compreensão ou expressão), reportem ao profissional de saúde que vos segue ou, neste caso, falem directamente com um Terapeuta da Fala para vos ajudar a compreender melhor o vosso bebé e eventualmente recomendar algumas estratégias mais direccionadas.’
Ana Sofia Cunha, Terapeuta da Fala
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