Quando pensamos em métodos de educação, quase que aposto que te surge de forma automática recompensar o teu filho quando faz algo bem ou castigar quando faz algo mal, certo? É possível educar sem recompensas ou castigos sequer?
Foi assim que a maioria de nós foi educada e como tal, é-nos inata esta abordagem. No entanto, lá porque foi o método usado connosco, não significa que não existam outros. Felizmente estamos sempre em evolução, a aprender e a melhorar.
Começo por te perguntar: queres que a criança faça uma coisa porque irá receber uma recompensa (sempre) ou que faça porque sabe que é importante, está motivada a fazer e quer/gosta?
No momento até te pode parecer irrelevante, queres é que a criança faça o que lhe estás a pedir e não conteste. Mas, no imediato e longo prazo, a mensagem que estás a passar é que a criança deve fazer as coisas sempre em troca de algo e não porque gosta ou entende a sua relevância. Não importa se se empenha ou não, desde que faça e receba a recompensa no final. Parece-te uma aprendizagem positiva?
Com os castigos passa-se um pouco o mesmo, castigas a pensar que assim a criança não irá repetir o que fez. Mas, na realidade, o que é que acontece? Volta a repetir, tenta é não ser apanhada, certo?
Como fazer então? Não podes deixar a criança fazer tudo e mais alguma coisa também, não é?
Maria Montessori defendia uma abordagem onde a criança tinha liberdade, para fazer tudo o que é importante ao seu desenvolvimento, num ambiente controlado/preparado.
Como assim? “Então deixo o meu filho mexer na loiça, detergentes, plantas, meter a mesa, subir cadeiras…? Isso é perigoso e stressa-me um bocado!”.
- Começa por preparar a casa, o ambiente, para que a criança consiga ter essa liberdade: coloca as coisas à disposição da criança numa altura adequada com tamanhos e pesos ajustados
- Vai mostrando à criança como pode fazer e participar nas actividades. Ensina uma a duas por dia
- Ensina com calma, falando pausadamente e com gestos lentos para que a criança consiga aprender e compreender
- Deixa a criança fazer e participar activamente. Confia na criança. Se não a deixares fazer por si, como é que ela vai aprender a fazer algum dia sozinha as coisas?
Normalmente não deixamos as crianças fazerem determinada coisa porque é arriscado, porque não confiamos nas suas capacidades ou porque nos incomoda de alguma maneira. Fomos educados assim, a não confiar nas capacidades das crianças (nós adultos sabemos sempre melhor, não é?).
As crianças adoram participar nas actividades do dia-a-dia, imitar e sentirem-se capazes, confiantes e independentes. Procuram isso constantemente e quando essa oportunidade/liberdade lhes é dada, num ambiente preparado, desenvolvem a capacidade de executar um comportamento correto e o prazer de se dedicar a coisas importantes. Essa independência permite-lhes desenvolver concentração e autocontrole também, para executarem a tarefa a que se propuseram. Tudo, habilidades importantes no imediato mas acima de tudo a longo prazo, para a vida toda.
Algumas sugestões de como podes ir concretizando este desenvolvimento:
- Dispõe alguns utensílios de cozinha numa prateleira baixa ou mesinha que esteja ao alcance da criança (um copo e uma garrafa de água, um prato com fruta e um garfo…)
- Coloca um alguidar com água e sabão numa prateleira ao alcance (ou cadeira), dois ou três copos de plástico e uma esponja e deixa a criança lavar os copos;
- Podes arranjar um banquinho ajustado ao tamanho da criança que a permita subir e chegar ao lavatório para lavar as mãos (deixa-a segurar mesmo um sabonete pequeno e desenrascar-se)
- Deixa-a participar a meter por ex roupa na máquina e a colocar a pastilha de detergente (sempre tudo com supervisão, claro)
O ambiente é importante, a tua postura e deixares a criança fazer também. Vai errar? Sim. Vai repetir várias vezes até acertar? Sim. Aprender é isso mesmo e essa motivação para voltar a tentar e melhorar, fortalece e prepara a criança para a vida. Estar motivada faz com que não dependa de ameaças, chantagens, recompensas ou castigos. Entendem regras, deveres, mas interessam-se pelas coisas, são curiosas, vão à descoberta.
Ninguém gosta de trabalhar só porque nos foi prometido um ordenado. Gostamos do nosso trabalho quando fazemos algo que nos entusiasma, interessa, nos permite aprender mais e desenvolver, certo? Com as crianças é o mesmo 🙂
Aprende mais sobre o desenvolvimento dos 0-18m e como podes estimular com os Mini-Cursos Aprender a Brincar